quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O Show tem que continuar




- O Senado continua a oferecer um show da condição humana, que, mesmo em nível parlamentar, é o que conhecemos: feita de barro, sujeita aos mil acidentes da carne e do espírito. O bate boca feroz entre Eduardo Suplicy e Heráclito Fortes revela a tênue casca de civilização que todos vestimos para suportarmos uns aos outros.
Foi sem dúvida um espetáculo lamentável, na medida em que tentou reavivar uma crise (também lamentável) que ocupou o noticiário e o apetite de sangue, exigindo o "mata! esfola!" cívico com o qual a turma que se considera do bem tem saciada sua fome de moralidade.
O caso Sarney, para todos os efeitos, está encerrado. Lula não pode governar sem o PMDB, e o PMDB, até que surja nova liderança, é Sarney. Curiosamente, está sendo reeditada a dicotomia que prevaleceu nos anos 80, com a dupla Sarney-Ulysses Guimarães. Embora do mesmo partido, Sarney não tinha ainda o som e a fúria do velho MDB, que Ulysses encarnava historicamente. O jeito foi governar com ele. Sem Ulysses, o governo de Sarney não duraria o que durou. O que fez de bom (transição democrática e Constituinte) não teria sido feito.
Por mais estranho e ridículo que pareça, a história agora se repete. Para governar e emplacar um(a) sucessor(a), Lula precisa do PMDB, precisa de Sarney.
Não adiantam as portas do inferno petista baterem contra a dupla. Não prevalecerão -estou citando um texto bíblico. A política tem uma política que a própria política desconhece.
Não adianta chorar nem tentar expulsar os jogadores. Sem eles não há jogo e todos acabam perdendo, entrando em campo a tropa de choque, que aproveita a confusão para uma volta ao passado, quando toda a nação, quando todos nós vivíamos ameaçados por um cartão amarelo.******************************************************************* por Carlos Heitor Cony

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Palmas para Suplicy



O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) merece o Troféu Dumb & Dumber de Habilidade e Inteligência Política. E por que ele se fez digno de tamanha distinção? Porque conseguiu cair num truque de Eduardo Suplicy. Ninguém mais cai. Ele é o único e o último.

Suplicy ocupou a tribuna do Senado para pedir a renúncia de Sarney e lhe apresentou um cartão vermelho — mesmo!, de verdade!, um pedaço de cartolina! Já disse o que penso desse seu arroubo tardio. Não repetirei.

O que Suplicy queria? Fugir de sua gritante irrelevância no Senado e no PT e aparecer como alguém que luta contra Sarney. O próprio PMDB não lhe dá trela. Até Sarney, em pessoa, respondeu ontem a suas críticas de uma maneira, vá lá, urbana.

A quem coube o chilique? A Heráclito Fortes, um senador do Democratas. Isso no dia em que membros do seu partido renunciavam ao Conselho de Ética.

Suplicy precisava de uma escada para a sua comédia. E Heráclito foi um coadjuvante perfeito.

Pronto! O senador do PT, agora, virou inimigo de Sarney, e Heráclito, o seu principal aliado! Obra de gênio! É preciso ser muito, como direi?, especial para ser enganado por Suplicy!**********************************************************************por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 18 de agosto de 2009

sábado, 8 de agosto de 2009

Pelé,M. J.,Fred Astaire e... Marlon Brando

DEBORAH COLKER- Ele era um bailarino. Qualquer um que olhasse Michael Jackson dançando também queria dançar. E isso é a coisa mais importante que pode haver no mundo dessa e de qualquer outra arte. O planeta inteiro -crianças, adolescentes e adultos- passou a imitar as coreografias que ele desenvolveu, seu breque, sua maneira de quebrar a música no corpo, a forma como unia os passos ao ritmo. O jeito de ele dançar era hip hop, era funk, era breakdance -mas não resultava em nada disso, porque era reinvenção. Tinha as proporções de um bailarino. Pernas compridas, mãos enormes, aqueles braços. Seu corpo era completamente expressivo. Como Pelé, nasceu com as medidas perfeitas. A dança é uma vida muito árdua, exige grandes esforços. E Michael era um símbolo total disso. Completamente meticuloso, perfeccionista.Ficava visível que todos aqueles passos estavam milimetricamente calculados. Uma precisão acima da perfeição. Mas, ao mesmo tempo, era indisfarçável o prazer que sentia ao fazer aquilo. E nem precisava dançar. No clipe que gravou aqui no Brasil, Michael quase só andava. Mas com uma elegância e uma destreza comparáveis apenas às de Fred Astaire -que de fato era um de seus ídolos. Aprendi a ter prazer no meu ofício olhando Michael dançar. Se a minha companhia existe, se a dança está dentro de mim, responsabilizo totalmente esse homem por isso. Ele teve momentos mais exuberantes, discos menos brilhantes, mas uma festa sem Michael não acontece. É como se eu não tivesse ido. Essas coisas são incomparáveis, mas John Lennon me passou pela cabeça. Quando a gente vai ter a possibilidade de ter outro cara como esse? Saímos perdendo. A humanidade sem Michael Jackson está atrasada. DEBORAH COLKER, 48, é bailarina e coreógrafa.
http://www.youtube.com/watch?v=e3wShd_bX8A&feature=channel

Critica Superflua

Fica,Sarney

Lula, o verdadeiro chefe de Renan sábado, 8 de agosto de 2009
Um texto meu de ontem começava assim: “O triste espetáculo a que se assiste no Senado tem um maestro: Luiz Inácio Lula da Silva“. Pois bem, posts abaixo, vocês lerão que Lula — que ontem resolveu exercitar retórica golpista — endossou o comportamento de Renan Calheiros (PMDB-AL) no Senado. Segundo o presidente, quem radicalizou foi a oposição!
Lula endossa, assim, o espetáculo de arrogância, truculência e baixo calão protagonizado por Renan. A coisa não pára por aí. Ele também gostou daquela frase emblemática do seu aliado: a oposição é “minoria com complexo de maioria”. Aprovou o achado. Considera que é isso mesmo. Até o peemedebista achou que tinha exagerado, mas não Lula. Como já disse aqui, isso revela uma incompreensão básica, essencial, do que é democracia. Por que as palavras são, como disse, emblemáticas? Porque elas sintetizam e desenham o espírito deste governo: maiorias existem para esmagar; minorias, para ser esmagadas.
“Mas não é assim nas democracias?”, pergunta o petralha. Não, não é, não. Os vários fascismos europeus foram regimes de maioria, alguns “de massa”. E, no entanto, não foram democráticos. A democracia supõe a existência e aplicação de valores — e um dos mais sagrados é justamente a proteção aos direitos da minoria, seja na política, seja na sociedade. Bastasse a maioria, as próprias leis seriam inócuas.
Ninguém, na tropa de choque de Renan, tem algo a perder — alguns dos seus soldados nem mesmo têm votos, já que são suplentes. Ele próprio não ambiciona mais ser algo além do que já é. Sabe que, na carreira, chegou ao topo. E conta com a máquina que montou em seu estado para lhe garantir os mandatos. Renan, Collor, Wellington Salgado… Eis a guarda pretoriana de Sarney. São esses monumentos morais que hoje tentam protegê-lo da própria biografia.
Que as oposições resistam à tentação de celebrar um “acordo de convivência” ou coisa que o valha. É muito importante para o país que Renan seja Renan, Collor seja Collor, e Sarney seja Sarney. Porque isso contribui para que Lula seja Lula.
Torço para o confronto continuar e para Sarney não sair daquela cadeira. O embate revela a real natureza daquela gente esquisita, mas também expõe a real natureza do governo Lula e faz um ensaio do que seria um governo Dilma.
Sarney tem de ficar. Mas debaixo de vara.
********************Por Reinaldo Azevedo*****************

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Homem Natural

CARLOS HEITOR CONY-Biografia e biografado
- Sempre ouvi dizer que o senador José Sarney é um homem de sorte, que nasceu virado para a Lua. Chegou à Presidência da República de forma inesperada, mas legal. E muita coisa aconteceu com ele, provando que a sorte sempre esteve a seu lado. É supersticioso, entra nos aviões sempre com o pé direito, faz sinal-da-cruz quando o aparelho sobe e pousa, sai de um lugar pela mesma porta da entrada, enfim, tem dado certo para ele.Agora mesmo, quando um tsunami invade sua praia, com a mídia consensualmente contra a sua permanência na presidência do Senado, ele tem uma prova do quanto é querido pelos formadores de opinião e pelos profissionais da sua área, que é a política. Nunca um cidadão deste país teve tanta gente preocupada com a sua biografia.Nos últimos dias, o que mais se lê e ouve é que Sarney tem uma biografia invejável e deve renunciar à presidência do Senado para não prejudicá-la. Essa preocupação com a biografia de um político é deveras comovente (perdoem o "deveras", prometo não mais usá-lo).Tem-se a impressão de que não estão dando importância ao cargo, mas à pessoa que o exerce. Para honrar sua biografia, Sarney deveria renunciar para que a vida nacional volte à sua normalidade moral, política e administrativa.Acontece que Sarney tem o direito de administrar a própria biografia, que é dele, e não dos outros. A Comissão de Ética analisará as denúncias contra ele e encaminhará sua decisão ao plenário que o elegeu e que poderá destituí-lo da presidência.Para um político com a sua biografia, e que chegou ao mais alto posto da carreira republicana, ser mantido ou não no cargo atual é irrelevante. A renúncia seria o reconhecimento de que desmereceu de sua biografia.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009